quinta-feira, 7 de junho de 2012

O Desabrochar Cerebral

O bebé, assaltado por olhos, ouvidos, nariz, pele e vísceras ao mesmo tempo, sente que tudo é uma grande, exuberante e vibrante confusão” escreveu o psicólogo William James em 1890. Hoje em dia, sabemos que esta descrição está longe de ser verdade. Graças ao seu cérebro a desabrochar, mesmo o recém-nascido já é capaz de ter um sentido adequado daquilo que toca, vê, cheira, prova e ouve; a estimulação sensorial pode, por sua vez, promover o rápido desenvolvimento do cérebro.

Quanto à VISÃO:

As capacidades de visão de um recém-nascido são muito diferentes das de um adulto, nomeadamente a nível de actividade visual, que é muito menor no caso do primeiro do que no segundo. A actividade visual refere-se à capacidade de cada indivíduo em captar os pormenores visuais. Apesar da acuidade infantil melhorar rapidamente, a sua limitada acuidade nos primeiros meses de vida significa que a perspectiva que a criança tem do mundo é mais indistinta e manchada do que a de um adulto.


Os olhos do recém-nascido são mais pequenos que os do adulto, as estruturas da retina estão incompletas e o nervo óptico está subdesenvolvido. Os recém-nascidos piscam perante luzes brilhantes. A sua visão periférica é muito limitada, duplicando entre as 2 e as 10 semanas de vida. Nos primeiros meses de vida verifica-se um rápido desenvolvimento da capacidade do bebé em seguir um alvo em movimento assim como da percepção à cor. Os bebés com menos de 2 meses não conseguem seguir com os olhos um objecto que se desloque muito vigorosamente, revelando antes uma tendência para seguir um objecto em movimento com uma série de movimentos do globo ocular repentinos. Para aprender a totalidade de um objecto é normalmente necessário examiná-lo cuidadosamente em toda a sua extensão, no entanto a criança poderá ter menos capacidades efectivas de proceder a uma análise em pormenor. Os bebés com 1 mês têm tendência para se concentrarem numa única característica ou num número limitado de características da forma.
Por volta dos 2 meses de idade, o bebé é capaz de distinguir o vermelho do verde; aos 3 meses de idade distingue o azul. Com 4 meses de idade o bebé é capaz de discriminar entre vermelho, verde, azul e amarelo; assim como a maioria dos adultos, prefere o vermelho e o azul.
Os olhos do recém-nascido focam melhor a uma distância de aproximadamente 30 cm, a distância típica entre o rosto do bebé e o da pessoa que lhe está a pegar ao colo. A acuidade visual aumenta durante o primeiro ano de vida, atingido o nível de visão 20/20 por volta dos 6 meses de idade. A visão binocular – a utilização de ambos os olhos para focar, permitindo a percepção de profundidade e distância – geralmente não está desenvolvida entre antes dos 4 e 5 meses de idade.

Em suma, podemos dizer que o bebé tem um sistema visual funcional e eficaz (competências de discriminação e preferência visual), embora a qualidade da visão seja inferior à dos adultos; pelo menos nas primeiras semanas ou meses de vida. 

Relativamente à AUDIÇÃO: 
A audição está funcional mesmo antes do nascimento, o feto responde a sons (de baixa ou alta frequência) e parece aprender a reconhecê-los: sons da fala, ruídos do meio externo, do organismo, da natureza, … Bebés com 3 dias de vida são capazes de distinguir novos sons da fala daqueles que já tinham ouvido anteriormente. Com 1 mês de vida, o bebé é capaz de discriminar sons tão semelhantes como “ba” e “pa”. Os bebés com menos de 3 dias de vida, quando lhes é contada uma história que já ouviram no útero ou histórias que nunca ouviram antes, respondem de forma distinta, chupando mais o mamilo que activa uma gravação auditiva da história que ouviram no útero. O bebé também é capaz de distinguir a voz da sua mãe da voz de uma pessoa desconhecida e prefere a sua língua materna a uma língua estrangeira (ao nível do timbre, frequência; particularmente os sons mais agudos). O reconhecimento precoce das vozes e da linguagem ouvida no útero poderá ser visto como um mecanismo conducente à formação da relação entre os pais e a criança. A sensibilidade a distinções auditivas poderá ser um indicador precoce de capacidades cognitivas.
Embora para os adultos a visão seja o sentido mais importante, para uma criança poderá ser diferente. Comparativamente aos adultos, a acuidade auditiva de um recém-nascido é bastante mais apurada do que a sua acuidade visual. Ao ouvir determinado som, por exemplo, o recém-nascido volta a cabeça na sua direcção, o que indica a capacidade de localizar estímulos auditivos (fonte sonora) pouco depois do seu nascimento.

Quanto ao OLFACTO: 
Mesmo bebés recém-nascidos após uma gestação de sete meses conseguem detectar odores, sempre que os estímulos sejam suficientemente fortes; a intensidade requerida diminui no decorrer dos primeiros dias e semanas de vida, o que significa que o sistema olfactivo se aperfeiçoa rapidamente. O recém-nascido é capaz de localizar a proveniência dos odores. O recém-nascido é capaz de distinguir os odores; mostra através da expressão, que aprecia o odor de baunilha ou de morango e que não aprecia o odor de ovos podres ou de peixe. A preferência por odores agradáveis parece ser aprendida no útero e nos primeiros dias após o nascimento, contribuindo para esta aprendizagem a variedade de odores transmitidos através do leite materno.
Bebés com seis dias de vida, que estejam a ser amamentados, demonstram preferências por compressas com o odor do seio da sua mãe, em comparação com o de outra mulher que esteja a amamentar, embora tal facto não se verifique em bebés com apenas 2 dias de vida, sugerindo, assim, que os bebés precisam da experiência de alguns dias para aprenderem a conhecer o odor das suas mães. Os bebés que são alimentados a biberão não são capazes de efectuar esta distinção. Numa perspectiva evolucionista, o reconhecimento e a preferência pelo odor do seio da própria mãe poderá ter sido um mecanismo de sobrevivência. As mães e outros membros da família também são capazes de identificar o odor do seu bebé, o que sugere que o sentido do olfacto pode contribuir para o reconhecimento do parentesco.

Relativamente ao PALADAR:
A sensibilidade ao sabor também parece estar presente ao nascimento, pois tantos os bebés prematuros quanto os nascidos a termo reagem positivamente a estímulos doces e negativamente a salgados e amargos. Quanto mais doce for o líquido, mais forte é a sucção e mais líquido o bebé ingere. Uma tendência inata para a “gulodice” ajuda o bebé a adaptar-se à vida extra-uterina. O leite materno é bastante doce, tal como os alimentos nutritivos como os legumes e os frutos que desde cedo passam a fazer parte da dieta alimentar do bebé. As respostas de rejeição do bebé face a sabores amargos, são provavelmente um mecanismo de sobrevivência na medida em que muitas das substâncias amargas são tóxicas.

Quanto ao TACTO: 
No que se refere aos sentidos cutâneos responsáveis pela sensibilidade ao tacto, à pressão, à dor e à temperatura, o padrão parece semelhante ao já visto em outras ocasiões: estes sentidos são funcionais desde o momento do nascimento, embora a sensibilidade cutânea aumente durante os primeiros dias e semanas após o nascimento. Os recém-nascidos são também sensíveis ao ritmo (ao embalar, a palmadinhas no rabo).

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