Quando o assunto é o desenvolvimento de uma criança e
adolescente, torna-se pertinente aos professores de Educação Física e Desporto
conhecerem as suas fases constitutivas, para lhes fornecer corretos estímulos. As crianças são, quanto ao seu
desenvolvimento, imaturas e, por isso, é necessário estruturar
experiências motoras significativas apropriadas para seus níveis de
desenvolvimento particulares (GALLAHUE, 2003, p. 63).
Dessa forma, podemos dividir as
fases e estágios do desenvolvimento motor da criança e adolescente em seis
estágios, segundo Gallahue (2003):
Fase
motora reflexa:
os primeiros movimentos que o feto faz são reflexos. Os reflexos são movimentos
involuntários, controlados subcorticalmente, que formam a base para as fases do
desenvolvimento motor. A partir da atividade reflexa, o bebé obtém informações
sobre o ambiente imediato. As reações do bebé ao toque, sons e alteração de
pressão provocam atividades motoras involuntárias.
Fase
de movimentos rudimentares:
As primeiras formas de movimentos voluntários são os movimentos rudimentares,
observados nos bebés até aproximadamente os 2 anos de idade. São movimentos
básicos que garantem a sobrevivência da criança, como controlar a cabeça, o
pescoço e a musculatura do tronco, assim como tarefas manipulativas de agarrar,
soltar e alcançar. Também é característica dessa fase os movimentos locomotores
como arrastar-se, gatinhar e caminhar.
Fase
de movimentos fundamentais:
Aparecem na primeira infância (3 a 6 anos, aproximadamente) e são consequência
da fase de movimentos rudimentares do período neonatal. Esta fase do
desenvolvimento motor representa um período no qual as crianças pequenas estão
ativamente envolvidas na exploração e na experimentação das capacidades motoras
dos seus corpos. É um período para descobrir uma variedade de movimentos
estabilizadores, locomotores e manipulativos. As crianças estão a aprender,
nessa fase, a responder os estímulos com competência e controlo motor.
Atividades a serem trabalhadas nessa faixa etária: Atividades de manipulação
(arremessar e apanhar), estabilizadoras (andar com firmeza e o equilíbrio em um
pé só) e locomotoras (correr e pular).
Fase
de movimentos especializados: Ocorre por volta dos 7 aos 10 anos. Nessa etapa, os movimentos fundamentais, já em um estágio maduro,
auxiliam no desenvolvimento de atividades motoras complexas, como em aulas
desportivas. As habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas
fundamentais são refinadas, combinadas e elaboradas para uso em situações
crescentemente exigentes. O movimento fundamental de pular ou saltar com um pé
só podem ser aplicados, agora, em atividades como pular corda ou triplo salto
no atletismo.
O
objetivo dos pais, professores e treinadores, nesse estágio, deve ser o de
ajudar as crianças a aumentar o controlo motor e a competência motora em
inúmeras atividades. Deve-se tomar cuidado para que a criança não restrinja seu
envolvimento em certas atividades, especializando-se em outras. Um enfoque
restrito das habilidades, neste estágio, provavelmente provocará efeitos
indesejáveis nos últimos dois estágios da fase de movimentos especializados
(GALLAHUE, 2003, p.62).
Estágio
de aplicação: Aproximadamente
dos 11 aos 13 anos, ocorre a sofisticação cognitiva crescente capaz de tomar
numerosas decisões de aprendizado e de participação baseadas em muitos fatores
da tarefa, individuais e ambientais. Por exemplo: um indivíduo de 12 anos com
1,80m de altura e que goste de trabalho em equipa escolhe por jogar basquetebol,
por exemplo. Caso esse indivíduo não goste de estratégias e jogo coletivo, pode
escolher uma modalidade do atletismo. Nesse estágio, portanto, os indivíduos
começam a buscar ou a evitar a participação em atividades específicas. Há
um ênfase crescente na forma, habilidade, precisão e nos aspectos quantitativos do
desempenho motor. Esta é a época propícia para refinar e usar habilidades mais
complexas em jogos avançados, atividades de liderança e em desportos escolhidos.
Estágio
de utilização permanente: A
fase especializada do desenvolvimento motor começa por volta dos 14 anos de
idade e continua por toda a vida adulta. É o auge do processo de
desenvolvimento motor e é caracterizado pelo uso do repertório de movimentos adquiridos
pelo indivíduo por toda a vida. Interesses, competências e escolhas feitas
durante a fase anterior são adquiridos e, mais tarde, refinados e aplicados a
atividades quotidianas, recreativas e desportivas ao longo da vida. Factores como
tempo, dinheiro, equipamentos e instalações disponíveis, assim como limitações
físicas e mentais afetam este estágio. O nível de participação de um indivíduo
em certas atividades dependerá de talento, oportunidades, condições físicas e
motivação pessoal.
Cada estágio é sensível a
determinados estímulos e o desenvolvimento do indivíduo é multilateral. Sendo o
professor de Educação Física e Desporto responsável por proporcionar vivências
motoras, sociais, afetivas e cognitivas às crianças, compreender as fases
supracitadas e considerá-las na montagem das aulas ou treinos significa não
negligenciar o desenvolvimento, possibilitando o emergir de talentos e
potencialidades.
Referências bibliográficas
GALLAHUE,
D. L. Compreendendo o desenvolvimento
motor: bebés, crianças, adolescentes e adultos. Tradução de Maria Aparecida
da Silva Pereira Araújo, Juliana Medeiros Ribeiro, Juliana Pinheiro Souza e
Silva. 3° Ed. São Paulo: Phorte, 2005.